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domingo, 28 de dezembro de 2014

Pais e Filhos


"Pais e Filhos", de Hirokazu Koreeda, é um interessante filme que aborda a questão da paternidade. Ryota Nonomiya, um arquiteto bastante ocupado, e sua esposa descobrem que não são os verdadeiros pais de seu filho Keita, que há seis anos fora trocado na maternidade. A partir desta revelação, o hospital responsável pelo equívoco fará a mediação entre a família de Keita e Ryusei (a outra criança trocada) para que os pais tomem a decisão que julgarem mais adequada: realizar a troca ou não de seus filhos. O interessante de "Pais e Filhos" é que as famílias envolvidas no caso são bastante distintas entre si, principalmente os pais das crianças. Ryota é um arquiteto de sucesso, que tem como principal meta a educação de seu filho Keita de maneira a torná-lo um adulto tão brilhante como ele julga ser. Yudai, pai de Ryusei, no entanto, é um sujeito de origem e comportamento mais humilde, proprietário de uma loja de eletrônicos e que dedica um tempo maior a sua família, inclusive de forma mais afetuosa.

Desde o momento em que descobrem a troca ocorrida na maternidade, Ryota e Yudai (um personagem bastante carismático, diga-se de passagem) reagem de formas diferentes. Enquanto Yudai parece ignorar a situação, Ryota convence-se de que as falhas que enxerga no comportamento de seu filho Keita são resultados da inexistência de laços sanguíneos entre os dois, visão que é reforçada por seu pai, que lhe aconselha que a passagem do tempo só tornaria Keita mais parecido com o pai biológico, um homem cujos métodos educativos são reprovados por Ryota. O foco da obra passa a ser então o embate entre "laços sanguíneos" e "criação", e qual dos dois seria mais decisivo para a formação do caráter e personalidade das crianças envolvidas. Ryota ignora que o tempo e carinho dedicado aos filhos é o fator mais decisivo para  garantir a felicidade das crianças, o que Yudai já sabia desde o princípio da história.

Hirokazu Koreeda criou uma obra delicada sobre um tema que aos poucos vai se revelando dentro do roteiro. A sutileza e calma dos japoneses, ao lidarem com um assunto tão complexo, faz com que a história seja perfeitamente localizada em duas famílias orientais que possuem a presença de espírito necessária para lidar com o drama que passam a conviver. Destaque para o momento em que Ryota, conhecendo um local bastante arborizado, questiona a um senhor o tempo necessário para um determinado inseto desenvolver-se e deixar o casulo. Quinze anos é a resposta do homem. Ryota assusta-se e o senhor pergunta: "e você acha isso muito?". O que isso significa para o roteiro, cabe ao espectador refletir. 

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