Páginas

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Inside Llewyn Davis


O novo filme dos Irmãos Joel e Ethan Coen (2013), que no cinema quase formam uma pessoa só, é a história de um músico fracassado. Há pouco além disso na obra, mas isso não a desmerece. Acontece que, quando um filme tem uma boa história para contar, ele pode ser interessante ainda que mal dirigido. No caso de filmes com histórias comuns, ele obrigatoriamente deve ter diálogos inteligentes e uma boa direção. Caso contrário, vira um pesadelo. Mas isso não é uma tarefa difícil para os Coen, que criaram maravilhas como "Onde os Fracos Não Têm Vez" (2007) e "Fargo" (1996) - ainda que tenham escorregado em "Um Homem Sério", o pior filme de 2009. 

O protagonista da história é Llewyn Davis (Oscar Isaac), ex-membro de uma dupla folk norte-americana. A dupla fez pouco ou nenhum sucesso, o que é perceptível nas dezenas de discos encalhados no escritório do produtor de Davis. Deprimido e cansado, o bem interpretado protagonista, lança-se em uma busca constante pelo sucesso financeiro, algo que ninguém parece acreditar ser possível: nem o produtor, companheiros de trabalho e sua família. Os fracassos de Davis são tantos que é difícil até mesmo para os espectadores conseguirem criar qualquer expectativa ou esperança em relação ao rapaz. O fato das músicas folk cantadas por ele serem ruins também contribui para isso, embora Oscar seja um grande intérprete. Buscando algo mais, o protagonista lança-se em uma mal sucedida viagem para Chicago, momento que o filme torna-se brevemente um road movie com personagens estranhos e cenas desnecessárias.

Há algo no filme que nos lembra "Coração Louco", que é uma grande obra principalmente pela atuação de Jeff Bridges e canção-tema, tanto é que foi vencedor do Oscar nas duas categorias. Mas o filme estrelado por Bridges acompanha a vida de um músico famoso em sua busca pelo retorno ao sucesso, com um foco muito grande no drama psicológico do protagonista e sua luta contra o alcoolismo. No filme dos Coen, o que Davis tenta superar é o estereótipo de que músicos folk produzem mais do mesmo, sem que haja uma imersão muito profunda na vida do protagonista, ainda que isso seja sugerido pelo título. A superficialidade com que a vida de Davis é tratada e o acúmulo de personagens desnecessários (qual a função do personagem interpretado por Justin Timberlake?) enfraquecem o filme, mas não o tornam tão enfadonho ou pouco interessante. O que sustenta "Inside Llewyn Davis" é a boa fotografia e principalmente a grande atuação de Oscar Isaac, que deu humanidade a seu personagem, conquistando a afeição dos espectadores. Sem um desfecho vitorioso para o protagonista ou melancólico demais, os irmãos parecem encerrar a obra querendo dizer: "você assistiu a um filme que vai do nada a lugar nenhum". Mas aposto que vão gostar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário