Páginas

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Magia ao Luar



"Magia ao Luar" (2014), novo filme de Woody Allen, é um retorno do cineasta ao mágico e fantástico, temas recorrentes em sua filmografia, que ganharam maior repercussão em "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985)  e "Meia Noite em Paris" (2011), grandes sucessos comerciais. Curiosamente, desta vez Allen não ambienta a história em nenhuma cidade específica, que geralmente são também protagonistas de suas obras, mas nos traz para a Riviera Francesa, em algum lugar do passado. Stanley (Colin Firth) é um mágico que, a la Houdini, é famoso não apenas por seus truques, mas também por desmascarar falsos médiuns. Ele é então desafiado por um de seus melhores amigos a conhecer a vidente Sophie (Emma Stone em uma bela interpretação), que, por seu indiscutível talento, coloca à prova o ceticismo do mágico.

Depois de uma carreira tão extensa, é fácil identificar nas obras de Woody Allen uma certa fórmula mágica (com o perdão do trocadilho) que as fazem dar certo. Embora  o diretor não atue no filme, o personagem de Colin Firth, que aparenta estar muito mais velho do que quando venceu o Oscar em o "Discurso do Rei", é certamente o alter-ego de Allen: um sujeito intelectual, pessimista e extremamente materialista. As coisas mudam de figura quando Stanley passa a acreditar que talvez exista algo mais entre o céu e a terra, já que Sophie conhece cada detalhe de sua vida pessoal e também de sua família. A personagem da médium é um contraponto à figura do mágico e torna-se bastante previsível que eles vão se apaixonar, embora Stanley seja casado e Sophie sendo cortejada por um rapaz muito rico, que compõe serenatas para ela em um ukulele.

Ao contrário de seu último trabalho, "Blue Jasmine" - que, por ser muito denso, tornou-se chato - em "Magia ao Luar" há muitas cenas divertidas, que nos dão um alívio entre os diálogos inteligentes e o excesso de informação típico dos filmes do diretor, onde há pouca pausa entre as falas dos personagens. O mágico de Colin Firth encara o mundo com um cinismo que aos poucos vai diminuindo, à medida que passa a crer no talento da médium. O vazio da vida dos personagens ricos é contrastado com a simplicidade de Sophie e a admiração de Stanley pelo metafísico. Esta mudança de comportamento do mágico ao longo do filme tem início em uma romântica cena dentro de um observatório, quando, ao lado da médium, contempla o céu. O luar que enxergam na cena só era mágico porque compartilhado - mas Stanley demora um pouco até compreender isso. "Magia ao Luar" é outro belo trabalho de Woody Allen, que não para de nos presentear.

Nenhum comentário:

Postar um comentário