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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Manhattan


"Manhattan" (1979) é visualmente o filme mais impressionante de Woody Allen, que é ainda mais valorizado quando assistido (neste caso reassistido) em blu-ray, com uma alta definição que deixa Nova York ainda mais bonita, mesmo que apenas em preto e branco. É uma obra sutil e inteligente, que aborda amor e traição em uma cidade pela qual o diretor é apaixonado. Há em "Manhattan" uma prova de amor à terra natal de Allen, expressa não apenas na bela fotografia dos pontos turísticos da cidade, mas também nos diálogos que a cultuam - o que faz o título do filme bastante acertado. Isaac (Woody Allen interpretando a si mesmo) é um escritor e humorista que relaciona-se com uma jovem de 17 anos, Tracy, após ser largado pela esposa, que assumiu-se lésbica. A vida de Isaac se resume em escrever e sair com o casal de amigos Yale e Tracy, em quem despeja a sua acidez a respeito de todos os aspectos da vida cotidiana e também de seu emocional. Como de costume, o personagem de Allen é intelectual e sistemático, com uma tirada pronta para cada situação que lhe aparece, nos presenteando com diálogos muito engraçados.

A vida do protagonista toma outro rumo quando Yale apresenta a ele sua amante, Mary (Diane Keaton para variar), que desperta a atenção de Isaac, por terem personalidades bastante parecidas. Não demora para que ele se apaixone por Mary, deixando de lado a pobre Tracy, que o ama. Parece uma trama confusa, e de fato foge da nossa compreensão se o sentimento que cada personagem nutre pelo outro é sincero, mas isso não os parece afligir tanto assim. O triângulo ou quadrado amoroso é apenas um pano de fundo para um filme que tem como o seu triunfo as belas tomadas externas de Nova York e a presença de espírito de seu protagonista, que embora disfarçado de "Isaac" é na realidade Woody Allen em seu melhor momento no cinema. São muitas as referências de filmes, livros e músicas, mas sem dúvidas a cena mais marcante de "Manhattan" é o momento em que Isaac discute com Yale sobre a postura adúltera deste último em seu relacionamento. A câmera filma apenas Allen e o esqueleto de um primata ao seu lado. Em uma grande referência ao famoso monólogo de Hamlet, de Shakespeare, Isaac lembra ao amigo que um dia chegariam à condição daquele esqueleto e o questiona: "como você quer ser lembrado?". A cena termina com Allen deixando o enquadramento da câmera e resta apenas o crânio do primata nos encarando. Mesmo se não tivesse uma obra tão extensa e relevante, Woody Allen já teria garantido o seu lugar de memória na história do cinema apenas com esse belo e melancólico filme.

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