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sábado, 31 de janeiro de 2015

O Jogo da Imitação


Indicado ao Oscar 2015 em todas as categorias principais, incluindo melhor filme, "O Jogo da Imitação" é a cinebiografia de Alan Turing, matemático inglês e gênio da criptografia, razão pela qual tornou-se personagem notável na Segunda Guerra Mundial. O cinema já possuía um bom filme sobre um matemático também genial, que é o premiado "Uma Mente Brilhante", filme que guarda muitas semelhanças com a história de Turing, pelo fato de ambos os matemáticos possuírem um espectro em sua vida pessoal que, de certa forma, prejudicou a sua carreira. "O Jogo da Imitação" é, no entanto, uma história de guerra, mas uma guerra ocorrida nos bastidores do conflito real, longe das armas, gritos e explosões. 

Havia na Inglaterra de 1939 um grupo de criptógrafos contratados pela coroa com o único objetivo de desvendar o segredo de "enigma", a máquina decodificadora usada pelos alemães para trocarem mensagens militares e políticas no desenrolar da Segunda Grande Guerra. O excêntrico Alan Turing, então com 27 anos, se dispõe a trabalhar nessa empreitada, e, por sua inteligência fora do comum, passa a contar com o apoio do próprio primeiro ministro para construir uma máquina que tornaria possível a decodificação das mensagens nazistas. O personagem, embora arrogante e extremamente vaidoso quanto a sua posição dentro do círculo de criptógrafos envolvidos (e nisso em certa medida nos lembra bastante o personagem Sheldon Cooper - como muito bem percebido pela minha namorada) ganha a empatia do espectador por conta da bela atuação de Benedict Cumberbatch, um ator sem dúvidas estranho mas excepcional, que poderia vencer o Oscar para, quem sabe, ganhar um pouco mais de papéis em bons filmes que o valorizem. 

Outra atriz que também dá certo charme ao filme é uma criptógrafa que passa a trabalhar clandestinamente com Alan. Ela é interpretada pela competente Keira Knightley, que embora muito bem no papel, não possui muita relevância no filme a não ser pelo fato de que é uma presença feminina importante para equilibrar emocional e psicologicamente o protagonista, que após um certo momento do filme torna-se triste e deprimido. Esta melancolia é fruto da perseguição policial que sofre por conta da homossexualidade, descoberta em um evento que é na realidade o prólogo do filme e retomado pouco antes do fim. "O Jogo da Imitação" é um filme bastante prazeroso de ser assistido. Bem editado, com boas atuações e uma história muito interessante, a obra só peca por reduzir a descoberta da chave de "enigma" tão somente a figura de Alan, quando em uma rápida pesquisa pela internet é possível concluir que sua parte nesta vitória, embora primordial, não foi uma conquista de um homem só, nem tampouco apenas de sua máquina, que no filme é erroneamente batizada de "Christopher", o primeiro amor de Alan - introduzido no filme como uma tentativa tola de dar à história um apelo emocional. Fora esses pontos negativos, é um bom filme que nos desperta a curiosidade para o campo da criptografia, além de nos apontar a maneira como a descoberta do código nazista mudou os rumos da Segunda Guerra Mundial. A máquina criada por Turing é claramente a precursora do que mais tarde foi nomeado "computador". Só por esse aspecto o matemático já merecia um filme de sucesso.

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