"O Mensageiro do Diabo", de 1955, é o filho único de Charles Laughton, ator, diretor e roteirista de aparência física semelhante à Alfred Hitchcock. É uma obra eternizada pela imagem de seu protagonista, o pastor Harry Powell, disputando uma queda de braço consigo mesmo, com as mãos marcadas por tatuagens com os dizeres "amor" e "ódio". No filme, Powell, interpretado por Robert Mitchum, é um religioso que descobre na cadeia que os filhos crianças de seu colega de cela guardam escondida uma fortuna roubada pelo pai, condenado à morte. Liberto, o pastor vai até a casa da viúva do ex-colega, e lá persegue a mulher e os seus filhos em busca do dinheiro escondido, passando-se por um homem com boas intenções.
O grande trunfo da obra, cujo roteiro, por suas características, poderia ter sido dirigido por Orson Welles ou mesmo Hitchock, é a maneira sombria com que as perseguições de Powell às crianças é representada. Embora as cenas tenham sido produzidas totalmente em estúdio e por vezes sejam um pouco artificiais, chama à atenção a maneira expressionista com que foram produzidas, o que dá um aspecto extremamente marcante e bonito ao filme. Também é representativa a sua simbologia, onde temas como religião, sexo e feminismo são tratados através de objetos ou meras sugestões, ainda que em alguns momentos a questão sexual seja abordada de forma bastante direta, como quando o pastor repreende sua recém desposada mulher por querer deitar-se com ele.
A atuação exagerada de Mitchum e sua caracterização sinistra, ao lado de uma trilha sonora minimalista e arrepiante contribuem para o suspense do filme, que mantém-se até o fim da história, mesmo que não haja um mistério ou segredo para sustentá-lo. "O Mensageiro do Diabo", reconhecido posteriormente como um cult movie, foi um fracasso comercial que fez com que seu criador nunca mais dirigisse nenhuma obra. O maior legado deste filme é a forma como conta uma história pouco original transformando-a em um espetáculo visualmente memorável.
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