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sexta-feira, 16 de junho de 2017

A Visita



Filme de 2015, "A Visita", de M. Night Shyamalan - mesmo autor de "O Sexto Sentido" (1999), "Sinais" (2002)  e "A Vila" (2004) - é um misto de uma boa história e um roteiro mal aproveitado. Eu arrisco dizer que este poderia ser o grande filme de terror lançado até hoje desde o ano 2000, mas a direção infelizmente deixa tanto a desejar e, ao mesmo tempo, peca pelo excesso em tantos aspectos que "A Visita" deixa de ser um grande filme para ser apenas uma promessa não cumprida. O filme, seguindo uma tendência que se tornou popular em "A Bruxa de Blair" (1999), é filmado como um documentário, dando a sensação de que toda a história foi gravada pelos seus protagonistas, um casal de irmãos ainda crianças que vão visitar os seus avós que nunca conheceram. A mãe das crianças é brigada com os seus pais, de modo que os irmãos jamais viram os avós. É justamente esse fato que dá à protagonista, Becca, a ideia de gravar o filme, cujo objetivo final seria alcançar a redenção da mãe em relação aos pais, curando os seus problemas emocionais e psicológicos, que acabam por afetar também as crianças. 

"Só isso tudo" já é pano de fundo demais pra um filme de terror. Penso que este gênero, que tradicionalmente consegue produzir maravilhas de forma absolutamente minimalista, deveria continuar seguindo esta fórmula: um bom filme de terror é aquele que conta o suficiente pra que você fique com medo. Todo o resto é nada mais nada menos que enrolação. E Shyamalan soube enrolar muito bem em "A Visita". Quando as crianças chegam a casa dos avós, o roteiro ganha uma atmosfera tão macabra que faz com que qualquer pessoa, mesmo mais resistente, tenha absoluta curiosidade pela história e, no mínimo, se comprima na poltrona. Em seus melhores momentos este é, na essência, um belíssimo filme de terror. Acontece que o excesso de sentimentalismo da história, somado a pequenos detalhes pouco verossímeis até para um público pouco exigente faz com que o clima de tensão decline vertiginosamente até que a obra, em alguns momentos, pareça mais uma aventura infantil do que um curto conto macabro - que é o que deveria ser.

De modo algum estes defeitos tornam a história do filme menos assustadora. Ajustando alguns detalhes, como por exemplo a datação do filme ou a qualidade da imagem das câmeras usadas pelas crianças, o clima poderia se tornar mais pesado, o que melhoraria a obra. Além disso, o uso do humor poderia ter sido mais concentrado nos momentos iniciais, o que daria à história uma evolução diferente, podendo tornar o andamento tão sinistro que seria mais insuportável aos espectadores. E uso insuportável no sentido positivo que a palavra pode assumir quando pensamos que o objetivo primordial de um filme de terror é causar medo. Por alguns detalhes, mas sobretudo pelo excesso de sentimentalismo dos momentos finais, "A Visita" não consegue vingar como poderia. Os meios não justificam os fins da obra, embora os meios sejam definitivamente sua melhor parte. A personagem da avó é certamente uma das figuras mais interessantes do cinema de horror deste século. A originalidade da história, no entanto, é diminuída pela pieguice de Shyamalan, que, exceto por "A Vila", está sempre fazendo filmes bons apenas pela metade. Isso aconteceu novamente com "Fragmentado" (2017), sua última produção. Não adianta surpreender o espectador com um plot twist no fim. É preciso surpreender o espectador o tempo inteiro. De qualquer forma, recomendo que julguem por vocês mesmos e assistam "A Visita" em alguma noite chuvosa, acompanhados de uma bacia de pipocas. Impossível negar que não seja assustador. 

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