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sexta-feira, 28 de julho de 2017

Shrek


Levemente inspirado em um livro norte-americano, "Shrek", de 2001, é o melhor filme de animação já feito pela DreamWorks. Sua história é extremamente cativante e resgata os grandes filmes e livros de fantasia infantis, envolvendo cavalheiros, princesas, castelos e dragões. A história também brinca com os principais contos de fada da literatura, fazendo piada com personagens como os sete anões e os três porquinhos. O protagonista é um ogro que, sentindo sua privacidade invadida por personagens de contos de fadas que habitam o pântano onde vive, parte em busca do Rei para pedir o seu terreno de volta. O Rei - extremamente caricato, baixinho e sem escrúpulos - aceita o pedido, desde que Shrek resgate e leve a ele a princesa Fiona, presa em uma torre protegida por um dragão. O monarca, que na verdade é um Rei de araque, só quer se casar com Fiona por interesse, razão pela qual não demonstra a mínima vontade em ir pessoalmente ao encontro da princesa.

Shrek parte então rumo ao castelo, junto de seu fiel escudeiro: um burrinho falante, cuja companhia o ogro só aceita por falta de opção. O Burro, esse é o seu nome, é o personagem responsável pelos momentos mais engraçados do filme, com um humor ácido e tiradas rápidas, além do otimismo e prestatividade. Quando Shrek encontra Fiona, ela fica naturalmente chocada ao descobrir que seu herói é um ogro, mas ela guarda o seu próprio segredo. O filme não é apenas uma sátira aos principais contos de fadas, mas também uma grande desconstrução dos clichês deste tipo de história. Fiona não é exatamente um modelo ideal de princesa romântica, como ela demonstra ao enfrentar Robin Hood no meio da floresta: seus golpes são os mesmos usados por Trinity, heroína de "Matrix" (1999). Outro momento que quebra qualquer romantismo esperado em um filme de princesas é quando Fiona vê um pássaro azul e imediatamente ameaça repetir a mesma cena clássica de "Branca de Neve e os Sete Anões", de 1937. Em poucos segundos ela grita tão alto que o pássaro azul explode e deixa três ovinhos no ninho. A princesa não hesita e na cena seguinte frita os três ovos, para ela e seus companheiros.

Um dos maiores méritos de "Shrek" é contar uma história divertida de forma linear, como são contadas as melhores narrativas do gênero. Quando o ogro e o Burro chegam ao castelo onde está Fiona, guardado por um dragão que dorme sobre moedas de ouro, é impossível não nos lembrarmos de "O Hobbit", obra literária de Tolkien. Logo ficamos ansiosos para saber o vem na sequência, como a ideia dos quests nos jogos de RPG - os protagonistas têm uma missão definida desde o início da história. Situação semelhante acontece em outros filmes do tipo, como "A Princesa Prometida" (1987), "O Mágico de Oz" (1939) e o próprio "O Senhor dos Anéis" (2001-2003). Outro grande trunfo do filme é o uso do humor, com uma perfeição rara no cinema. São muitos os momentos engraçados da obra. Um dos diálogos do Rei é hilário, quando ele diz pra Shrek: "que falta de educação a sua em estar vivo, quando ninguém mais te quer". Há inclusive algumas piadas mais quentes, incomuns em filmes infantis. A trilha sonora é muito moderna, com músicas populares, bem rock'n'roll. As cenas finais são pra morrer de rir, quando os personagens de contos de fadas dançam empolgados, inclusive fazendo a coreografia de macarena. Em "Shrek" o nonsense parece natural, e é impossível não nos divertimos com isso. É um filme que me fez sentir verdadeiramente feliz.

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