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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

The Post - A Guerra Secreta


De um tempo pra cá, os filmes de Steven Spielberg têm se tornado muito cívicos. O diretor que em grandes momentos da carreira produziu obras como "Tubarão", "E.T", "Indiana Jones" e "Jurassic Park", parece ter se tornado representante da pátria para retratar histórias com foco principal nos "valores" de seu país. Resultado: Spielberg é hoje um dos diretores mais chatos do cinema norte-americano. Lembro da minha decepção ao assistir ao pésssimo "Cavalo de Guerra", que por pouco não me fez sair do cinema, ou ainda o arrastado "Lincoln", que só é salvo mesmo por Daniel Day Lewis. Juntando toda a sua filmografia, só posso pensar que Spielberg seja um diretor superestimado, embora tenha grande talento para financiar bons filmes, cuja direção ficou a cargo de outros realizadores, como aconteceu com "Poltergeist" e a saga "De Volta Para o Futuro".

"The Post" é estrelado por Tom Hanks e Meryl Streep - dois grandes atores cuja atuação é firme, sem nenhum traço de ousadia ou qualquer outra característica que fuja do comum. Quem já assistiu mais de 20 filmes com cada um dos dois sabe que eles estão entregando em "The Post" muito menos do que já fizeram em toda a sua carreira. Meryl Streep é certamente a atriz mais importante da história do cinema norte-americano e em "The Post" ela sabe exatamente o que está fazendo: o seu personagem é aquilo que o filme pede, nada mais. Sem excessos. O mesmo se diz de Tom Hanks, que assim como Streep tem dois oscares da academia como ator principal e cumpre à risca o protocolo do bom ator. Ele compreende que uma interpretação contida é muito mais garantida do que arriscar-se em um papel que não exige muito dele. 

Embora a história seja interessante, o foco político que Spielberg dá à trama é sofrível. E mesmo com roteiro assinado pelo premiado autor de "Spotlight" a história parece subestimar o espectador, querendo nos fazer acreditar que as decisões sobre o que se publicava ou não no "The Washington Post" envolviam somente o dilema entre a amizade da protagonista com os denunciados em escândalos e o seu real interesse em salvar o país de uma guerra inútil e perdida no Vietnã. Ignora-se, por exemplo, a presença política da oposição na redação do jornal. Afinal de contas, o que estava em jogo ali era apenas a bondade e compaixão com os soldados que morriam na guerra? Acho que o público de Spielberg não é tão inocente assim.

Existe uma preocupação explícita do diretor em demonstrar como as mulheres estavam (muito mais do que hoje) à margem da sociedade eminentemente masculina, machista. A câmera de Spielberg nos apresenta uma realidade em que as mulheres ficam do lado de fora das reuniões, tem as suas ideias interrompidas pelos homens e são segregadas quando os assuntos são negócios. É claro que, mesmo considerando a boa intenção do filme, há certo oportunismo no trato do assunto, sobretudo porque o femininismo tem sido pauta quente nas premiações pelo mundo afora. A protagonista é uma mulher forte, dona do próprio negócio, e se Spielberg ignorasse que isso era uma total exceção na década de 60/70 ele seria acusado de omissão. Embalado pela trilha sonora do sempre presente John Williams, o filme segue a linha civilista, patriótica e, absolutamente enfadonha que Spielberg decidiu adotar para a sua carreira. É uma pena, porque eu preferia quando o diretor tinha como prioridade o entretenimento de seu público, e não a propaganda moralista que tem produzido nos últimos anos.

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