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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Uma Mulher Fantástica


Este é o primeiro e único filme que assisti do diretor chileno Sebastián Lelio, que foi indicado ao Oscar em 2018 na categoria "melhor filme estrangeiro". Já está disponível em DVD no Brasil, em lançamento antecipado por causa do Oscar. "Uma Mulher Fantástica" é estrelado por Daniela Vega, atriz que é tão fantástica quanto o título da obra, que narra o drama uma mulher transexual após a perda de seu companheiro, vítima de um ataque fulminante. O relacionamento dos dois era reprovado pela família do homem, o que faz com que os parentes do morto rejeitem definitivamente Marina, a protagonista, como uma mulher que já foi amada pelo falecido namorado.

É incrível, porém nada surpreendente, a forma como as autoridades chilenas se comportam em relação à Marina, sugerindo que ela e o companheiro tinham somente uma relação promíscua e que ele poderia inclusive ter sido assassinado por ela, uma possibilidade surreal para nós espectadores que acompanhamos desde o início do filme o carinho que havia entre os dois. É assustadora a falta de sensibilidade com que as pessoas, quase todas no filme, tratam Marina, fazendo perguntas indiscretas e a tratando com pronomes masculinos, em uma clara afronta à sua liberdade de ser reconhecida pelo gênero com que se identifica. 

Há muitas tomadas bonitas no filme, como a cena em que Marina caminha contra o vento, fazendo da música de Caetano Veloso algo literal, porque ela ainda não possui a documentação que lhe dá legalmente o nome de mulher, provavelmente pela morosidade da justiça latino-americana, retrógrada e medieval. Outro grande momento é quando a protagonista, nua, enxerga o próprio reflexo em um espelho sobre a sua virilha. Marina é uma personagem calada, que muitas vezes não reage ao preconceito que sofre, mas ainda assim protagoniza momentos explosivos e sua resistência é resposta à frase que ela mesmo profere em determinado momento do filme: "o soldado que não vai à luta, está do outro lado da guerra". 

Estamos diante de um belo filme, com bonita fotografia e trilha sonora muito coerente com o estado de espírito da protagonista, com destaque para a progressiva "Time", de The Alan Parsons Project. A música é um elemento muito importante no filme, porque será a forma como a protagonista encontrará algum tipo de alento em um mundo opressor, tão cheio de pessoas que a tratam de forma desumana. Este filme faz uma bela dobradinha com "Me Chame Pelo Seu Nome" e é o favorito natural para vencer o Oscar de melhor filme estrangeiro. Sebastián Lelio, o diretor, está sendo comparado com Almodóvar, e há certa semelhança no tema e na forma de contar a história, além da fotografia colorida. Recomendo a todos. 

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