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domingo, 18 de março de 2018

Shakespeare Apaixonado


Lembro de "Shakespeare Apaixonado" ainda quando foi lançado no Brasil, em 1998. Na época, o filme teve grande repercussão porque deu o Oscar de melhor atriz à Gwyneth Paltrow, quando na realidade todos os brasileiros estavam torcendo para Fernanda Montenegro por sua brilhante interpretação em "Central do Brasil". É certo que a atriz brasileira estava em momento muito melhor, mas também sabemos que as estatuetas do Oscar são entregues por muitas outras razões que vão além da técnica, da entrega e do talento. Uma pena, pois teria sido um grande reconhecimento internacional para uma das maiores atrizes de todos os tempos.

Este episódio influenciou minha antipatia por "Shakespeare Apaixonado", que também venceu o Oscar de melhor filme naquele ano de 1999. Eu nunca tinha assistido, até que encontrei o DVD em uma banca de filmes vencedores do Oscar, e acabei comprando para seguir a minha meta de assistir todos os filmes que já ganharam a estatueta da Academia na categoria principal. Trata-se de história de William Shakespeare, o mais célebre dramaturgo de todos os tempos, especificamente durante o período em que se apaixonou e escreveu "Romeu e Julieta", uma de suas peças mais famosas. Por ser uma co-produção entre EUA e Inglaterra, o elenco é formado por ingleses e norte-americanos, com uma pequena dominância dos britânicos, entre eles os vencedores do Oscar Geoffrey Rush, Judi Dench e Colin Firth. Deve ser um dos elencos mais estrelados da história do cinema.

O cuidado na escolha de bons atores e atrizes é certamente consequência de um filme que fala sobre teatro, um gênero que normalmente emprega artistas com origem nas ribaltas. É uma pena que a história seja tão tola e o protagonista tão pouco inspirado. Há uma grande pieguice na forma como o romance entre os protagonistas se desenvolve, com claras referências à história de Romeu e Julieta, como se acontecimentos da vida real houvessem inspirado a escrita da peça por Shakespeare, quando na realidade há pouca ou quase nenhuma fonte histórica confiante o suficiente que nos permita conhecer de forma detalhada a biografia do bardo. Para apimentar a relação de Shakespeare e sua amante, o roteiro emprega alguns maquiavelismos entre a polícia londrina e ainda um amante enfurecido, que quer desposar a protagonista mesmo que ela não o ame.

Ainda que seja interessante ver a excêntrica Rainha Elizabeth I interpretada por Judi Dench e os teatros redondos do século XVI, bem como a estrutura dos ensaios e a escrita caótica de Shakespeare, o filme falha em nos fazer acreditar que aquele dramaturgo foi uma pessoa tão inteligente quanto de fato foi. Aliás, é provável que Shakespeare tenha sido o poeta mais importante de todo o Renascimento, mas tudo aquilo que vemos no filme é a representação de um homem apaixonado, confuso e pouco disciplinado. O escritor merecia algo que honrasse melhor a sua história, ao invés de um filme que o transforma em uma ama infiltrada no palácio real, ou ainda em um dramaturgo aparentemente pouco apaixonado por sua arte, que fica em segundo plano quando comparada a sua amante. É um filme menor, muito abaixo de "A Vida é Bela" e "Central do Brasil", filmes não estadunidenses que deveriam ter sido muito mais prestigiados naquele Oscar.

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