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terça-feira, 15 de maio de 2018

E Sua Mãe Também


Dirigido pelo já icônico diretor mexicano Alfonso Cuarón, bem no início de sua célebre carreira, este é um filme que fez muito sucesso quando lançado (2001) e hoje desfruta de um status cult, para não dizer que foi totalmente esquecido na fase pós-locadoras de vídeo. É uma pena, porque é um trabalho bastante autoral de Cuarón e provavelmente o seu filme mais autêntico, sob uma perspectiva regionalista. A obra é estrelada por Diego Luna e Gael García Bernal - dois dos mais famosos atores do México - em seus primeiros papéis relevantes no cinema.

O roteiro, indicado ao Oscar em 2002, parte do clichê dos road movies para contar a história de dois adolescentes que, estimulados pela vontade de transar, convidam uma prima distante para viajar até uma praia deserta. Ela é muito mais velha do que eles e descobriu recentemente ter sido traída pelo marido, de modo que a viagem para ela é uma oportunidade de desviar o foco da sua tristeza para uma aventura com dois jovens sem juízo. Todos devidamente motivados, eles partem em um carro retrô,  munidos de cerveja, maconha e camisinha (que eles jamais usam) para conhecer uma praia que sequer sabem onde fica.

Essa incursão pelo México é uma bela oportunidade de conhecermos um país muito pouco retratado no cinema. Desertos, bonitos e rurais, os ambientes frequentados pelos garotos são bem diferentes da vida burguesa que levam na grande cidade que vivem, onde um motociclista anônimo insiste em atrapalhar o trânsito após ser morto em uma colisão, como vemos no início da obra. A ida à praia é um refresco para aqueles que convivem com os dramas urbanos mexicanos, país cuja capital é a mais populosa de toda a América do Norte. 

Mas a obra de Cuarón vai além deste respiro bucólico. O roteiro insiste na ideia da passagem do tempo, da coexistência de diferentes gerações em mesmos espaços físicos, em estados de espírito diferentes. É assim que a narração em off de Gael García nos conta que, na estrada onde o trio protagonista passeia feliz, dois homens morreram em um trágico acidente alguns anos antes. A experimentação sexual também é um elemento forte na história, sobretudo pela presença da personagem da prima que foi traída, um fetiche para dois jovens cujas namoradas estão do outro lado do mundo. O resultado disso tudo é um filme que nos mostra um México nu, visitado por quem não fazia ideia de que ele existia. O clima melancólico lembra "Biutiful" (2010), do também mexicano Iñarritu, principalmente pela presença da morte e da inevitabilidade do tempo, para o bem e para o mal. "E Sua Mãe Também" é uma obra perdida na filmografia de Cuarón - um tipo de filme que ele dificilmente fará outro parecido.

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