"Paris, Texas" é uma obra frequente em listas de melhores filmes de todos os tempos e foi o filme vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1984. É certamente uma experiência cinematográfica diferente, pelas suas atraentes cores naturais captadas pelas lentes do diretor de fotografia Robby Müller, o que em certa medida nos lembra dos filmes do início da carreira de Martin Scorsese (um grande amante e talento no quesito "cores"). A grande marca de "Paris, Texas" são os seus planos abertos, o roteiro em certa medida misterioso, que se desvela ao público lentamente e a atuação de Harry Dean Stanton como o protagonista da história. Também são dignos de crédito especial o trabalho de Dean Stockwell e Aurore Clément.
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Harry Dean Stanton (1926-2017), o protagonista |
A história é típica dos "road movies", onde um homem enfrenta as longas e desertas rodovias do interior dos Estados Unidos para levar o seu irmão que estava desaparecido há quatro anos de volta para casa. O protagonista (Travis) não se lembra de modo algum onde esteve durante o tempo de sumiço e também não fala uma palavra com o irmão durante um bom tempo, até que aos poucos ele decide retornar à vida normal, onde tem um filho criança para reencontrar. Ao longo do filme vamos conhecendo melhor a personalidade de Travis e descobrindo o que aconteceu com ele, um homem perturbado pelo alcoolismo e um romance mal sucedido. O roteiro não vai muito além disso, pelo menos não até a penúltima longa cena, e é a fotografia da obra que a embala durante todo o tempo, com bonitas tomadas da região desértica do Texas e também do subúrbio de Los Angeles. É incrível o uso das cores naturais do céu vermelho texano ou do ambiente em tons neon da cidade de Los Angeles, com grande predominância da cor vermelha e verde em todo o filme.
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As luzes de "Paris, Texas" |
O clima melancólico da obra é ainda mais acentuado pela trilha sonora composta por Ry Cooder, um dos músicos mais importantes dos Estados Unidos, cujo estilo musical está intimamente ligado a sua forma de tocar os instrumentos - principalmente a guitarra e o bandolim - fazendo uso da técnica do "slide", alongando as notas de suas canções de blues. Pra quem quiser saber do que estou falando, ouçam a canção "Paris, Texas" no Spotify. Os temas musicais, a interpretação de Stanton e a fotografia dão ao filme o aspecto febril que ele tem a todo momento, transformando-o quase em um
western urbano, por mais incompatíveis que estas duas coisas pareçam ser. O filme caminha no sentido da resolução do grande problema pessoal de Travis, quando ele finalmente encontra a sua ex-mulher e conversa com ela por telefone em uma espécie de cabine erótica - um momento excêntrico e memorável. A obra trabalha cuidadosamente o trágico destino de um casal assolado pelo ciúme e a violência contra a mulher, sem necessitar de uma abordagem maquiavélica para tanto. "Paris, Texas" é uma experiência visual incrível pra quem aprecia as cores e as belas tomadas do cinema alemão (porém filmado nos EUA) de Wim Wenders.
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