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quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O Animal Cordial

Um restaurante fino e elegante se transforma no palco de uma noite sangrenta. Este filme de 2017, dirigido por Gabriela Amaral Almeida, é um autêntico terror, cujo único ambiente o transforma em uma experiência ainda mais assustadora. Há uma clara intenção da direção em trabalhar de maneira mais aprofundada as tão explícitas cenas de violência que recheiam o filme, mas se considerado em sua essência, a obra é uma experiência tão angustiante para o espectador quanto qualquer filme de matança pueril. O protagonista, interpretado por Murilo Benício, é o sistemático e aparentemente pacato dono de um restaurante, que diante de um assalto se revela um sujeito com tendências psicóticas. Há poucos personagens, mas cada um deles com personalidades definidas, arquétipos que representam o comportamento esnobe, o desleixo, a vaidade, a revolta e outras características que cada um deles carrega. São essas características que vão ter influência no destino de cada personagem no assalto frustrado, interrompido com a morte de um dos assaltantes a sangue frio pelo dono do restaurante, proprietário de uma arma de fogo. 

Aliás, ser dono de uma arma não ajuda nem um pouco o personagem de Benício a solucionar o assalto. Pelo contrário, a arma é o que vai dar a ele fôlego e autoridade para torturar psicologicamente (e fisicamente) cada um dos presentes em seu restaurante, até mesmo os que não tinham nada a ver com a história. A garçonete do restaurante, Sara, (Luciana Paes em ótima interpretação), toma partido do chefe, revelando uma paixão reprimida por ele, o que garante a sua sobrevivência naquela chacina e rende inclusive uma furiosa relação sexual com o dono do restaurante, em meio a uma poça de sangue - uma sequência muito forte. De modo geral, o filme procura mostrar ao espectador a emersão de um comportamento animalesco e selvagem de dentro de um indivíduo em posse do poder, que no caso é dado a ele pela propriedade de uma arma, seja de fogo ou uma faca. Em tempos que a violência privada é encarada pela sociedade como uma solução viável para os problemas no país, "O Animal Cordial" é revelador do quanto o ser humano ainda carrega genes de um comportamento irracional quando a violência o impulsiona a revelar os aspectos mais obscuros de seu caráter, como o preconceito e a intolerância. 

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