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terça-feira, 6 de novembro de 2018

Os Jovens Baumann


Assisti a "Os Jovens Baumann" na abertura do Festival Primeiro Plano de 2018. É um filme que tem feito certo sucesso em festivais pelo Brasil afora, pelo temática sombria e misteriosa. Foi dirigido e co-escrito por Bruna Carvalho Almeida - estreante em longas metragem - e tem previsão de lançamento nos cinemas comerciais brasileiros somente em 2019. Trata-se da história de um grupo de jovens primos que desaparecem após passar uma curta temporada de férias no sítio da família, no interior de Minas Gerais. A história é inicialmente contada por si só, através da exibição das filmagens feitas pelos próprios jovens, no estilo "câmera na mão", uma filmadora dessas bem antigas (porque a história se passa em 1992). Em seus primeiros trinta ou quarenta minutos o filme é muito instigante, porque nós espectadores não temos noção da razão de estarmos assistindo às gravações das férias dos jovens, embora exista certa sugestão de que alguma coisa vai dar errado, seja pela sinopse ou pelo título e cartaz da obra. Acontece que as gravações são subitamente interrompidas por uma filmagem contemporânea narrada, que quebra bastante o ritmo fantasmagórico do filme para nos apresentar didaticamente a sua história. 

A narração não acerta nem no tom de voz e ainda prejudica a evolução do roteiro, que vinha tão bem até o momento que o filme decide te contar o que está acontecendo, o que poderia facilmente ter sido feito com um breve textinho no início da obra, no melhor estilo "A Bruxa de Blair", uma influência óbvia para "Os Jovens Baumann". Ainda assim, o filme consegue se sustentar pela boa e muito natural interpretação de seu elenco, especialmente o ator que faz o personagem "Jotalhão", além de uma direção eficiente e criativa. Bruna Almeida é uma diretora com grande potencial, que sabe criar sugestões para os espectadores através de imagens que não são tão óbvias como costumam ser em filmes de horror. Um exemplo: há algumas brincadeiras envolvendo teias de aranha, conversas de ufologia ou ainda a constante sugestão de que alguns trabalhadores rurais vizinhos ao sítio poderiam estar envolvidos de alguma forma no desparecimento dos jovens. A trilha sonora e a montagem das cenas filmadas "na mão" contribuem para criar no cinema um ambiente de tensão, mesmo que o filme não seja propriamente uma experiência assustadora.

Assistindo a "Os Jovens Baumann", eu não pude deixar de pensar maneiras que poderiam tornar a história mais instigante para o público, e talvez menos cansativa. Há um grande equívoco no roteiro, que é informar de antemão ao espectador que o mistério dos jovens jamais foi solucionado. Ora, quando o próprio filme nos avisa que estamos diante de um caso que nunca foi resolvido e tudo o que temos para assistir são as fitas gravadas pelos jovens e assistidas pela polícia, de que maneira podemos ter expectativas de que o desfecho seja algo que nos surpreenda? Ainda assim, a história caminha para um "epílogo possível", como diz a narradora, que traz alguns episódios que me surpreenderam, não pela sua própria natureza, mas por não terem chamado a atenção das autoridades que investigaram o caso. Embora haja essa insistência pelo mistério não solucionado, o que o filme na realidade faz é sugerir um desfecho ao espectador, que me pareceu um pouco descarado demais. De modo geral, é um filme gostoso de ser assistido, talvez um pouco tedioso da metade para frente, mas ainda assim um bom suspense para ver no escuro. Gosto de filmes de ficção com uma pegada documental, mesmo que esta fórmula já esteja um pouco batida. A cena final nos choca não por algum elemento explícito, mas pela forma como foi filmada. Recomendo.

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