Ambientado no subúrbio carioca, este filme de 2017, dirigido por Marcus Vinicius Faustini, conta a história de um casal que espera o seu primeiro filho. O rapaz, Xéu - interpretado por João Pedro Zappa - é um bom moço morador do Batan, na periferia do Rio de Janeiro, que trabalha fazendo bicos como motoboy para uma lanchonete de comida chinesa. A sua namorada grávida (Mariana Cortines) tem personalidade distinta, com um temperamento mais possessivo. Pela sua impulsividade, a jovem pressiona o seu companheiro a vender a moto que ele tanto gosta, o que daria algum dinheiro para o pré-natal da criança.
Esse dilema entre moto e casamento é apenas o objeto inicial da história, que na realidade perpassa por outros temas mais complexos, como a maturidade, a vida difícil do morador suburbano, a fidelidade conjugal e o uso de drogas. A pobreza e a violência não são retratadas aqui da maneira estereotipada dos filmes nacionais do gênero. Não há a clichenta representação de traficantes, policiais corruptos e nem barulho de disparos de arma de fogo. Os recursos visuais e as tomadas de Faustini dão conta de nos mostrar o que é o subúrbio carioca. Quanto à violência, o roteiro perpassa superficialmente o assunto, como na cena em que um mecânico pergunta ao protagonista como consegue manter-se vivo morando no Batan, o que obviamente o desagrada.
Filmado com baixo orçamento, pouco mais de 80.000 reais, o filme tem alguns problemas técnicos, especialmente na montagem - com algumas falhas de continuidade - e também no som, mas a direção criativa e os talentos individuais dos atores conseguem sustentar a qualidade da obra. É uma pena que Vinícius de Oliveira não esteja tão bem, o que me espantou, por ser ele um dos atores mais experientes do elenco. Com o passar dos minutos, o filme migra do tema do casamento para a realidade de um morador suburbano no Rio de Janeiro, que procura com dificuldade um emprego no centro, um ambiente hostil e desconhecido para ele, que se espanta ao conhecer com um amigo o aterro do Flamengo, um lugar que não o pertence.
As tomadas em que Xéu - interpretado de forma muito competente - pilota sua moto pela cidade dão ao espectador a insegurança que esse meio de transporte de fato possui, como se estivéssemos a todo momento aguardando o momento em que uma queda daquela moto mudará o destino dos protagonistas, como profetizado pela namorada do garoto no início do filme. Um encontro entre amigos na Lapa será o cenário de uma mudança brusca na história. Um poeta de rua negro (Silvio Guindane), de aspecto punk, surge de repente para criar o caos na mesa de bar. Ele age de forma inconveniente, bebe a cerveja das pessoas, critica o uso do batom por uma mulher. Ele despeja acidamente verdades sobre os protagonistas, até que pede a moto para um breve rolê, que ganha contornos trágicos. A história termina com ares de crônica carioca suburbana, novamente insistindo na moto como símbolo da instabilidade que é a vida amorosa de seus protagonistas. Um filme interessante, que venceu o prêmio especial do júri no Festival do Rio de 2017.
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