O novo filme dos irmãos Coen, "A Balada de Buster Scruggs", foi lançado neste fim de ano como original da Netflix, o que mostra a força da empresa em sua empreitada como uma distribuidora de material que agrade tanto ao público mais afeito à materiais comerciais quanto àquele que aprecia um cinema um pouco menos convencional. O mais recente filme de Alfonso Cuarón, "Roma", também foi lançado diretamente na Netflix, o que demonstra que isso deve se tornar uma tendência daqui pra frente. É uma pena que este tipo de procedimento faça com que os filmes não estreiem ou fiquem por pouco tempo em cartaz nos cinemas, somente em eventos promocionais, como está acontecendo com o filme do Cuarón em São Paulo. Os cinéfilos mais xiitas acreditam que a Netflix acabará com os lançamentos no cinema, enquanto eu penso que, por um outro lado, a plataforma faz com o que o público brasileiro tenha a oportunidade de assistir a um filme ao mesmo tempo que os norte-americanos e europeus. Tudo é questão de perspectiva.
Quanto ao filme, eu particularmente considerei mais uma das produções entediantes dos irmãos Coen, embora tenha sido bem recebido pela crítica. Reciclando velhos clichês dos filmes de faroeste, a obra conta seis histórias independentes com temática western, sobre cowboys invencíveis, ladrões de banco, caçadores de recompensas e artistas de circo. Todos os contos trazem algum tipo de plot twist ou alguma surpresa mais sutil no roteiro, sendo que alguns deles são nitidamente melhores que os outros. A narrativa é estruturada a partir da imagem de um livro aberto, cuja passagem das páginas revela ilustrações, o nome do conto que será apresentado e as suas primeiras palavras. Impossível não se lembrar de "A Princesa Prometida", de 1987, embora essa fórmula tenha sido inventada muito antes na história do cinema. O elenco é estrelado, com Liam Neeson e James Franco, mas o que realmente chama a atenção é a fotografia e a espetacular qualidade das imagens do meio-oeste norte-americano, filmadas pelos irmãos com a propriedade de quem sabe o que está fazendo.
Dos seis contos, cada um com tempo de duração diferente, gostei especialmente do primeiro, bem humorado e hiperbólico, sobre um cowboy invencível. Outro que me agradou é o estrelado por James Franco, em uma atuação bem razoável, que conta a história de um ladrão que escapa da forca algumas vezes por ironias do destino. A ironia e o "humor negro" são elementos constantes em todas as histórias, que também desafiam a lógica e o senso comum. Os outros episódios pecam pela verborragia típica dos filmes dos irmãos Coen, cujos diálogos longos foram capazes de me deixar com sono em poucos segundos. Com o passar do tempo e o enfraquecer dos contos tive a sensação de estar assistindo a um filme que "azedou". E não é a primeira vez que isso acontece vendo algo feito pelos irmãos. Com o lançamento de "A Balada de Buster Scruggs" em uma plataforma de streaming, fiquei até surpreso que a história não tenha sido dividida em seis partes, como uma mini-série. O efeito teria sido menos devastador, porque assim seria mais fácil pular o que não é bom. De qualquer forma, vale a pena prestar atenção neste filme dos irmãos Coen, não exatamente pela qualidade da obra em si, mas sim pelo conjunto de um trabalho sempre digno de consideração.
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