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segunda-feira, 18 de março de 2019

Harry Potter e a Câmara Secreta

Esta é a continuação da adaptação dos livros do Harry Potter para o cinema, também sob a direção de Chris Columbus, que encerraria a sua contribuição na franquia com este filme consideravelmente melhor do que o primeiro que dirigiu. Lançada em 2002, a obra desta vez ganha conotações mais sombrias, abrindo mão da figura de um antagonista humano para explorar os mistérios por trás das paredes de Hogwarts, através de uma criatura escondida nas tubulações de água do colégio. Se o primeiro filme da série aborda a tentativa de ressurreição de Lord Voldemort - o grande vilão da história - a sua sequência abre mão da presença marcante do antagonista para explorar o seu passado como aluno de Hogwarts, através das reminiscências mágicas provocadas por seu diário. É como se este filme servisse ao propósito de contar ao espectador as origens do comportamento de Voldemort enfatizando que as suas primeiras atitudes malignas do passado tiveram origem no mesmo castelo onde a história se desenvolve no presente. 

Mais uma vez - e muito mais do que em "A Pedra Filosofal" - o roteiro insiste nas semelhanças e coincidências entre a história de Harry Potter e o seu maior inimigo. A habilidade em falar com cobras, chamada "ofidioglossia" é um dos pontos centrais da história, assim como o diário de Tom Riddle, que tão convenientemente vai parar nas mãos de Harry e o revela sobre um passado terrível vivido no castelo. A história também explica melhor quem foi Salazar Sonserina e a sua postura eugenista em relação aos bruxos que nasceram em famílias de "trouxas", o que levou Sonserina (um dos quatro fundadores de Hogwarts) a se desligar da escola, mas não sem antes amaldiçoá-la com uma câmara secreta que só poderia ser aberta por seu herdeiro. O trio de protagonistas descobre aos poucos sobre a câmara e naturalmente passa a desconfiar da dupla Draco e Snape como prováveis mentores e responsáveis pelos crimes que acontecem no castelo, especialmente porque ambos são membros da Sonserina e principalmente porque Draco tem o costume de replicar os discursos preconceituosos a respeito de "sangue ruins", nome pejorativo para os filhos de não-bruxos.

Comparado com o primeiro filme, o roteiro de "Harry Potter e Câmara Secreta" é muito mais costurado e bem escrito. Isso tem efeito direto na cadência da história, que ganha ares de thriller desde o princípio, quando por alguma razão Harry e Rony não conseguem chegar à plataforma do expresso que vai para Hogwarts. O surgimento de um novo personagem chamado Dobby, um elfo doméstico que consegue a proeza de ser fofo e irritante ao mesmo tempo, dá um grande frescor à história, assim como a presença bem humorada do professor de defesa contra as artes as trevas, Gilderoy Lockhart, uma espécie de superstar que na realidade revela-se um homem covarde, inexperiente e inofensivo. Outro personagem importante na história é Lúcio Malfoy, que assume neste filme o papel de um discreto antagonista - mesmo que essa descoberta seja tardia. Ao contrário do filho, um jovem imaturo e pouco corajoso, Lúcio é uma figura verdadeiramente sombria, que terá um impacto muito grande na história de Harry Potter conforme ela se avança.

É bastante interessante observar o crescimento dos atores mirins, que em pouco tempo amadureceram não apenas fisicamente, mas também em suas interpretações, em especial Emma Watson. Os personagens também mudaram no segundo filme e já é possível perceber uma leve e ingênua sugestão romântica no comportamento de Hermione e Rony, enquanto Harry permanece uma figura soturna, constantemente assombrado pelo seu passado. O humor é um elemento importante, principalmente através de brincadeiras como a carta falante recebida por Rony e o desastrado automóvel Ford Anglia que salva a vida de Harry e Rony mais de uma vez na história. Novamente, a adaptação do roteiro para o cinema é bastante fiel ao livro de J.K Rowling, o que a rigor fez a história do filme ser quase excessivamente longa. Ainda assim, a direção de Chris Columbus consegue dar à adaptação cinematográfica uma narrativa muito própria a linguagem do cinema, evitando que o andamento da história seja meramente a de um livro adaptado, mas sim de uma boa história contada em forma de filme. "Harry Potter e a Câmara Secreta" é entretenimento da melhor qualidade e uma memória muito feliz da minha infância.

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