Este foi com certeza o filme mais comentado do ano de 2005. Embora só tenha assistido a ele quase quinze anos depois de seu lançamento, lembro com clareza da repercussão de "Brokeback Mountain" na imprensa e nas redes sociais, por causa da temática gay do filme, um gênero que até então havia alcançado pouca ressonância entre "melhores filmes do ano" ou indicados a prêmios em festivais. E se tem algo que esta obra dirigida por Ang Lee conseguiu foi ganhar prêmios: Leão de Ouro em Veneza, Globo de Ouro, BAFTA e o Oscar na categoria direção, roteiro adaptado e trilha sonora para o genial Gustavo Santaolalla. Anos mais tarde, em 2017, "Moonlight" seria o primeiro filme de temática LGBTQ a conquistar o Oscar na categoria principal. Um ano depois, "Me Chame Pelo Seu Nome" venceu o prêmio de roteiro adaptado contando a história de um casal gay, fechando uma trilogia de filmes que são sem dúvidas os mais importantes deste início de século no que diz respeito ao reconhecimento e respeito da crítica por filmes que se preocupam com a questão LGBTQ. Todos as três obras foram comentadas aqui no blog!
"O Segredo de Brokeback Mountain" poderia ser facilmente classificado como um faroeste gay, ambientado no interior dos Estados Unidos. Embora eu tenha usado o termo faroeste, não há na história elementos que liguem o filme às histórias de cowboys assassinos ou guardiões da lei dirigidas pelo conservador Clint Eastwood. O ambiente da obra, por outro lado, lembra muito mais um filme dos irmãos Coen, sem os metaforismos sobre a religião judaica ou a moral do antigo testamento. Os protagonistas Jack Twist (Jake Gyllenhaal) e Ennis del Mar (Heath Ledger) são dois vaqueiros contratados como pastores e guardiões de um rebanho de ovelhas na fictícia montanha de Brokeback, no Wyoming. Obrigados a permanecerem isolados nas paisagens frias do norte dos Estados Unidos, os dois descobrem aos poucos uma paixão que vai do calor sexual a um amor verdadeiro que perdura por mais de 20 anos, entremeado por uma série de conflitos emocionais e familiares que impedem que o casal protagonista fique juntos como esperaríamos em uma história de amor. E é justamente esse o ponto mais interessante do filme.
Com um comportamento aparentemente heterossexual, em uma sociedade conservadora e machista, Jack e Ennis são dois improváveis protagonistas de um romance entre dois homens. Eles não são como os personagens do clássico road movie gay "Priscila, A Rainha do Deserto" (1994), que popularizou no cinema a imagem das drag queens. São homens reservados, de postura durona e em alguns momentos até mesmo grosseiros e estúpidos com suas esposas. Afinal de contas, ambos vivem como homens casados, com filhos, escondendo de todos uma orientação sexual que não é clara até mesmo para nós espectadores, embora saibamos que Jack e Ennis certamente se amam. A atração afetiva e sexual que sentem um pelo outro não pode ser plenamente exercida por um preconceito velado e uma repressão agressiva ao comportamento homossexual dos protagonistas, nos Estados Unidos da década de 1960. Não há no filme cenas explícitas em que Jack e Ennis são vítimas de chacota ou violência, exceto em um momento específico, e isso torna o filme ainda mais sombrio quando sabemos que a tensão a que os protagonistas estão submetidos é silenciosa, porque eles correm o risco de ser mortos apenas por serem gays, como Ennis relata em uma cena comovente.
É Ennis o personagem que reluta a todo momento em assumir o relacionamento com Jack, porque sabe que no passado um casal gay foi morto, provavelmente pelo seu próprio pai, em um crime que ele teve a infelicidade de testemunhar. Esta impossibilidade do casal ficar juntos é o que dá a história ares de um romance como o de "Romeu e Julieta", onde a instabilidade é um fator constante no enredo e no comportamento dos personagens. Ang Lee, como um grande diretor, não poupou aos espectadores - fossem eles liberais ou conservadores - a exibição de imagens em que os protagonistas transam e se beijam sem o pudor que precisam ostentar em suas vidas duplas de homens heterossexuais e bem comportados. Isto fez com o que o filme fosse recebido com desprezo por grupos preconceituosos e até mesmo boicotado por algumas pessoas. No Brasil, era comum ouvir referências ao filme com deboche, um tipo de atitude mesquinha que outros filmes como "Moonlight" felizmente não foram alvos. Politicamente falando, "O Segredo de Brokeback Mountain" cumpriu um papel verdadeiramente militante no cinema de temática LGBTQ e é com certeza o filme número 1 sobre o tema no cinema dito comercial, vendido e apreciado para as grandes massas. Além de tudo isso, é uma excelente oportunidade de ver um trabalho de Ang Lee, um dos diretores mais importantes do cinema do século XXI.
É Ennis o personagem que reluta a todo momento em assumir o relacionamento com Jack, porque sabe que no passado um casal gay foi morto, provavelmente pelo seu próprio pai, em um crime que ele teve a infelicidade de testemunhar. Esta impossibilidade do casal ficar juntos é o que dá a história ares de um romance como o de "Romeu e Julieta", onde a instabilidade é um fator constante no enredo e no comportamento dos personagens. Ang Lee, como um grande diretor, não poupou aos espectadores - fossem eles liberais ou conservadores - a exibição de imagens em que os protagonistas transam e se beijam sem o pudor que precisam ostentar em suas vidas duplas de homens heterossexuais e bem comportados. Isto fez com o que o filme fosse recebido com desprezo por grupos preconceituosos e até mesmo boicotado por algumas pessoas. No Brasil, era comum ouvir referências ao filme com deboche, um tipo de atitude mesquinha que outros filmes como "Moonlight" felizmente não foram alvos. Politicamente falando, "O Segredo de Brokeback Mountain" cumpriu um papel verdadeiramente militante no cinema de temática LGBTQ e é com certeza o filme número 1 sobre o tema no cinema dito comercial, vendido e apreciado para as grandes massas. Além de tudo isso, é uma excelente oportunidade de ver um trabalho de Ang Lee, um dos diretores mais importantes do cinema do século XXI.
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