Lançado em 2012, o primeiro filme dos Vingadores é o encerramento da "Fase Um" das produções do universo cinematográfico Marvel, que compreende dois filmes do herói Homem de Ferro e as histórias do Hulk, Thor e Capitão América. Sendo assim, "Os Vingadores" foi muito esperado pelos fãs de super-heróis como a primeira grande reunião dos personagens da Marvel no cinema, cujas histórias individuais já vinham sendo lançadas desde 2008. O sucesso do filme foi tão grande quanto a sua expectativa e "Os Vingadores" é atualmente a sexta maior bilheteria da história do cinema, ficando atrás de obras como "Titanic" e "Star Wars". A "Fase Dois" da Marvel teve início em 2013, com o aprofundamento da história de alguns heróis da primeira etapa e o acréscimo de outros novos, sendo também concluída com uma sequência de "Os Vingadores". A terceira e última fase (iniciada em 2016) traz, além de oito produções novas, outros dois filmes da franquia "Vingadores", sendo que o último concluirá a quadrilogia na semana que vem, encerrando uma etapa importante para a história dos filmes de super-heróis.
A trama principal de "Os Vingadores" é o roubo de uma poderosa fonte de energia denominada Tesseract pelo vilão Loki, irmão de Thor. O objetivo do poderoso antagonista é usar a energia do cubo cósmico para abrir um portal que traria o seu exército de Asgard diretamente para o planeta Terra, com o objetivo de subjugá-lo. Acontece que Nick Fury, diretor da agência de espionagem S.H.I.E.L.D descobre os planos do vilão e reativa a sua iniciativa denominada "Vingadores", recrutando cada super-herói para combater Loki, incluindo Thor, que deseja levá-lo de volta ao seu planeta de origem para ser julgado e condenado. É assim que vamos aos poucos conhecendo a personalidade de cada protagonista de "Os Vingadores", como a Viúva Negra, o instável Hulk, o Homem de Ferro, Capitão América, Thor e até mesmo o Gavião Arqueiro, que passa boa parte da história possuído pelo poder maligno de Loki. Nick Fury, por sua vez, também é uma espécie de Vingador, mesmo que lute de uma maneira mais convencional, munido de uma pistola e limitado pelo alcance de sua visão de um olho só.
Há uma grande preocupação do roteiro e de todos os elementos artísticos do filme em representar os heróis da Marvel como personagens sérios, adultos e verossímeis. Afinal de contas, era preciso que o cinema se livrasse da representação de super-heróis como figuras relacionadas ao universo infantil e adolescente dos quadrinhos, uma tendência muito comum no cinema de heróis da década de 1990, sobretudo com os filmes de Batman dirigidos por Tim Burton e Joel Schumacher. Essa iniciativa da Marvel foi muito bem sucedida, de modo que "Os Vingadores" conseguiu atrair com sucesso tanto o público mirim quanto os fanáticos adultos fãs de gibis, que se viram finalmente contemplados no cinema com uma obra à altura da grandeza e profundidade que os seus personagens favoritos já haviam conquistado nos quadrinhos. Esta guinada da representação caricata e infantil dos heróis à uma opção gráfica mais séria e sombria aconteceu graças aos trabalhos de Frank Miller e Alan Moore na década de 1980, com a edição de "O Cavaleiro das Trevas" e "Watchmen". A postura madura do roteiro dos filmes de "Os Vingadores" é um reflexo direto do que havia acontecido nos quadrinhos e demorou para chegar ao cinema, mas que que acabou acontecendo com a influente trilogia do Batman dirigida por Christopher Nolan.
De certa forma, "Os Vingadores" sabe dosar com maestria rara o elemento bem humorado e mágico do mundo dos super-heróis com o devido tratamento sério que eles merecem. Personagens como o Homem de Ferro e Capitão América são figuras que tornam a experiência do filme mais leve através do humor. A opção por um vilão que é um Deus nórdico, vindo de outro planeta, dá à história um elemento de fantasia que afasta os super-heróis do combate ao crime convencional e cotidiano das grandes cidades como Nova York, onde um pedaço da história se desenvolve. A luta dos Vingadores ocorre quase sempre no plano do espaço sideral: ela não dialoga com os problemas reais do mundo. Até mesmo a sociedade civil é pouquíssimo representada e nos questionamos onde estão os cidadãos norte-americanos em uma Manhattan quase totalmente destruída pelos heróis em combate ao exército de Loki. Neste sentido, "Os Vingadores" se afasta do realismo dos filmes de herói que Nolan tentou alcançar, por exemplo, e torna-se uma obra ainda mais palatável ao grande público, já que é pouco pretensiosa em termos de metáforas e simbolismos sobre o crime verdadeiro praticado por vilões reais.
O elenco é composto por celebridades do cinema norte-americano, especialmente Samuel L. Jackson, Robert Downey, Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo e Scarlett Johansson, o que de certa forma dá um crédito especial ao filme, por ter conseguido recrutar tantos bons atores dentro de um gênero que à época ainda não era tão apreciado como hoje em dia. Este inclusive foi um dos grandes legados de "Os Vingadores": conseguir atrair atenção, expectativa e um público numeroso para um gênero que chegou até a ter um representante como indicado ao Oscar em 2019, conforme aconteceu com "Pantera Negra", obra da terceira fase do universo da Marvel, comentada aqui no blog. Creio que em uma proposta de cinema de entretenimento, para assistir comendo pipoca, "Os Vingadores" é um bem sucedido filme que abriu portas para a modernização do fazer cinematográfico no gênero "super-heróis", uma categoria de filmes que tem se aberto cada vez mais à representatividade dos personagens e a desconstrução de tabus no cinema. "Os Vingadores" opta por uma abordagem da luta contra o bem e o mal que não necessariamente passa pela violência realista. O seu maquiavelismo, mesmo que óbvio, é uma marca da ingenuidade que os gibis de heróis possuíam e que o cinema em nada perde em reproduzi-lo para divertir o seu público alvo. Um excelente filme!
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