Em 2015, a Marvel Studios lançou a continuação do bem sucedido primeiro filme da quadrilogia dos "Vingadores". A segunda parte da história tem como vilão um robô chamado Ultron, nascido a partir da iniciativa de Tony Stark, que desejava criar uma máquina que defenderia o planeta e daria um pouco de descanso aos super-heróis de carne e osso. A criação, no entanto, desperta e volta-se contra o criador, fugindo com o cetro de Loki (capturado no primeiro filme) e lançando-se em uma iniciativa para destruir a raça humana. Mais uma vez, a batalha dos vingadores contra o mal ocorre no plano da mais bruta ficção científica, com um roteiro focado na capacidade que os computadores possuem em utilizar a sua inteligência para adquirirem autonomia e se revoltarem contra os seres que os criaram, como no famoso conto dos robôs de Isaac Asimov ou na quase totalidade da obra de Philip K. Dick.
Buscando tornar a experiência da obra mais dinâmica e menos estereotipada do que no primeiro filme, que possui um típico roteiro de filme de super-heróis, "Vingadores: Era de Ultron" descentraliza os vilões e traz alguns personagens novos, como os gêmeos Maximoff, que de maneira bastante interessante possuem uma explicação política para se voltarem contra os Vingadores, na figura de Tony Stark. Mas é justamente o viés ideológico da luta dos irmãos e o seu senso ético que os coloca ao lado dos super-heróis, tornando Ultron o único e grande vilão da história, além de uma breve aparição do traficante de armas Ulysses Klaw, personagem que foi mais aprofundado em "Pantera Negra". Além disso, permanece no filme a aparente eterna briga entre os próprios vingadores, sendo Tony Stark o elemento de desequilíbrio no grupo, porque tem um comportamento impulsivo (mesmo que bem intencionado) sem o qual Ultron sequer teria sido concebido. A instabilidade emocional de Hulk também é muito trabalhada na história, o que rende uma excelente cena de luta entre ele e o Homem de Ferro, encorpado pela sua armadura especial que o transforma no "Hulkbuster", para deleite dos espectadores.
Falando em Hulk, o filme também aborda um pouco mais o relacionamento entre Bruce Banner e Natasha Romanova, sendo que esta última parece ser a única pessoa capaz de controlar o temperamento do personagem, em uma improvável e bem fria história de amor. Há também no filme um acréscimo de personagens importantes, apesar de alguns outros veteranos terem muito pouco destaque, como é o caso de Nick Fury, muito apagado no roteiro. Os novos vingadores são a Feiticeira Escarlate, Máquina de Combate e Visão, este último um personagem muito importante no filme, por ser ele próprio um robô ultra poderoso criado originalmente por Ultron e finalizado por Tony Stark, lutando ao lado dos vingadores. Visão deve ser um dos heróis mais fortes do Universo Marvel e no filme há uma brincadeira sobre a sua capacidade em conseguir erguer o martelo de Thor, algo que os outros heróis vingadores fracassam durante um raro momento de descontração. O humor é usado com discrição no roteiro, o que já havia acontecido no primeiro filme, e se consiste basicamente em algumas tiradas entre os próprios personagens ou referências levemente escondidas na história, além de uma célebre sequência em que Stan Lee aparece bêbado na festa dos vingadores.
A batalha final do filme é longa e se passa em Sokovia, um país fictício do leste europeu, algo bem incoerente com o tempo em que o filme foi lançado. De qualquer forma, a ambientação da batalha tem um grande foco na sociedade civil (uma falha do primeiro filme), que luta desesperada para sobreviver em meio ao combate destrutivo dos heróis contra Ultron. Em determinado momento, Thor é o personagem que introduz na saga as "Jóias do Infinito", artefatos poderosos que possuem grande relevância para a compreensão dos filmes do Universo Marvel como um todo. O cetro de Loki é um destes objetos, o que justifica o seu poder e a sua cobiça pelo bem e pelo mal. Considerando a dinâmica do filme e a cadência de suas cenas, "Era de Ultron" é um filme mais sufocante para o espectador, principalmente pela excelente sequência já comentada entre Hulk e Hulkbuster. Embora tenha ganhado em ação, a obra perde na sua leveza ao abordar a luta dos super-heróis. A saga Vingadores torna-se mais densa no segundo filme, o que frustra um pouco a experiência de assistir ao filme de maneira despretensiosa. Sigamos para "Guerra Infinita" na expectativa de que Thanos finalmente apareça, já que ele mais uma vez dá as caras nas cenas pós-créditos de "Era de Ultron".
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