A estreia do personagem Homem-Aranha nos cinemas aconteceu em 2002, em uma sequência de filmes que se tornaria uma trilogia estrelada por Tobey Maguire, a princípio elogiada e mais tarde execrada pelas fãs de um dos personagens mais queridos da Marvel, criado por Stan Lee em 1962. A pouca aderência de Maguire ao personagem - somada ao fracasso de crítica da conclusão da trilogia inicial do herói - provocou um reboot do Homem-Aranha em 2012, desta vez interpretado por Andrew Garfield (que repetiu a tarefa em 2014). Em 2015, Sony e Marvel decidiram fechar uma parceria e iniciar novamente a saga do herói, inserindo-o no contexto do universo cinematográfico Marvel. O jovem Tom Holland foi escalado para o papel de Peter Parker e estreou como o Homem-Aranha em 2016 no filme "Capitão América: Guerra Civil", até que em 2017 ganhou o seu próprio filme individual, que é justamente "De Volta ao Lar", objeto deste post.
Logo nos primeiros minutos do filme, o público desprevenido sente falta de explicações mais claras a respeito das descobertas de Peter Parker sobre os poderes que possui como Homem-Aranha. Pular esta etapa foi uma escolha sábia do roteiro, até porque este assunto já havia sido muito explorado nos filmes anteriores do herói. Sendo assim, "De Volta ao Lar" nos apresenta logo de cara um jovem Peter Parker que domina elementos básicos das suas capacidades principais, como soltar teias e escalar paredes. Sua fantasia ainda é primitiva e o comportamento de Parker bastante imaturo, sendo a sua atividade principal combater o crime comum em Nova York, sustentando o clichê de "amigo da vizinhança" que o herói possui nos quadrinhos. Peter é retratado como um adolescente de 15 anos que passa o dia entre a escola e a sua vida de nerd no apartamento onde mora com a sua Tia May, quase sempre acompanhado por seu melhor amigo, Ned Leeds.
A rotina de combate ao crime cotidiano em Manhattan muda de figura quando Peter descobre que há um grupo de criminosos utilizando armas feitas com tecnologia alienígena roubada dos destroços da batalha de Nova York, representada no primeiro filme dos Vingadores (2012). Quem está por trás deste roubo tecnologia é o vilão Abutre, interpretado pelo excelente Michael Keaton (que curiosamente foi o Batman nos filmes do herói dirigidos por Tim Burton), um homem de família comum que acredita ser moralmente correto ganhar a vida vendendo armas para quem deseja comprar. Embora o mentor de Peter Parker, Tony Stark, deixe claro para o jovem que ele não deve se envolver no combate a este caso específico, o Homem-Aranha contraria as ordens do Homem de Ferro e decide lutar sozinho contra o Abutre, recebendo uma grande ajuda tecnológica de seu amigo Ned, que conhece a sua identidade secreta.
"De Volta ao Lar" é um bom filme de aventura, bem humorado e com referências interessantes aos quadrinhos e à cultura pop norte-americana em geral, como na cena em que Peter Parker corre atravessando quintais dos subúrbios de Nova York, prestando uma homenagem ao clássico "Curtindo a Vida Adoidado", de 1986. A trilha sonora é empolgante, sobretudo com o reforço especial da requentada "Blitzkrieg Bop", canção dos Ramones que parece não envelhecer nunca. A presença do Homem de Ferro dá ao filme o link que ele precisa ter com o universo cinematográfico Marvel, até porque o Homem-Aranha foi um personagem importante tanto em "Guerra Infinita" (2018) quanto em "Ultimato" (2019), além de já ter ganhado uma sequência denominada "Longe de Casa", que estreia em julho deste ano nos cinemas. Este parece ser o reboot mais importante do personagem e a sua entrada definitiva em um universo pretensioso da produtiva dupla Marvel/Disney, que sabe que o Homem-Aranha, mesmo que não seja um dos mais poderosos super-heróis, é certamente aquele com maior apelo popular entre o público jovem, cúmplice de uma geração de adolescentes que adorariam ter uma identidade secreta e uma fantasia poderosa projetada por Tony Stark.
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