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domingo, 25 de agosto de 2019

O Labirinto do Fauno

Este filme de 2006 foi uma das primeiras produções de grande sucesso do diretor mexicano Guillermo del Toro (depois de "Blade II" e "Hellboy"), que entre outros filmes ficou muito famoso por receber o Oscar de melhor diretor e melhor filme em 2018 por "A Forma da Água", já comentado aqui no blog. Não tenho conhecimento suficiente sobre a carreira de del Toro para falar com propriedade sobre o estilo do cineasta, mas pelo que já assisti dá pra defini-lo como um realizador versátil e bastante criativo, com grande inclinação para o cinema de fantasia e de horror, influenciado por uma estética gótica.

"O Labirinto do Fauno" não é exatamente um filme mexicano, mas na verdade uma produção mista entre México, Estados Unidos e Espanha, cuja história se situa neste último país, mais especificamente na Espanha de 1944. O roteiro coloca o espectador no fim da Segunda Grande Guerra, quando o ditador Francisco Franco resistia cruelmente ao crescimento da oposição ao seu governo ditatorial, principalmente entre a dissidência de orientação republicana. No filme, Franco (o franquismo, melhor dizendo) é resumido e personificado em um vilão chamado Capitão Vidal, um homem autoritário e de comportamento frio, bárbaro e criminoso. Vidal é padrasto de Ofelia, a protagonista da história, uma jovem criança amante de contos de fadas e histórias fantásticas.

Ofelia muda-se para a casa onde vive o Capitão Vidal, o novo marido de sua mãe, e lá faz amizade com um ser mágico: um Fauno que revela a jovem garota que ela é na realidade o espírito encarnado de uma princesa fugida do submundo. O Fauno dá a Ofelia três tarefas que uma vez cumpridas fariam com que ela retornasse de onde seu espírito originalmente veio, o que lhe garantiria vida eterna. Ofelia aceita a missão e as suas incursões pelo mundo mágico recém-conhecido são entremeadas pelos acontecimentos na casa do Capitão Vidal, onde sua mãe sofre de uma enfermidade que ameaça sua própria vida e gravidez. Vidal despreza a sua enteada e pouco se preocupa com a esposa, dizendo claramente ao seu médico que a vida do filho é mais importante que a da mãe que o carrega.

"O Labirinto do Fauno" trabalha a todo momento com a dicotomia entre a dura vida real enfrentada por Ofelia, sua mãe e os demais empregados da casa do sádico Capitão Vidal e o mundo mágico e fabuloso que a jovem garota encontra e descobre nos arredores da propriedade. É como se a história fantástica de Ofelia fosse uma fuga da guerra civil espanhola que provoca a morte horrenda de rebeldes republicanos pelas mãos de Vidal, um sujeito que abusa da violência e da crueldade para conseguir aquilo que quer. A violência, por sinal, é um elemento marcante no filme, que embora tenha a roupagem de uma história infantil é na realidade uma obra com intensa violência gráfica, explícita e até um pouco exagerada, considerando o talento de del Toro para representar com realismo corpos torturados ou cabeças explodidas por armas de fogo. 

Existe uma contradição ao interpretarmos que o elemento mágico no filme pode ser uma "fuga da realidade" espanhola, até porque o que Ofelia encontra no mundo fictício não é propriamente calma e diversão. Um dos seres que a garota precisa enfrentar é na realidade um monstro comedor de crianças, cujos olhos ficam localizados nas palmas de suas mãos: uma cena aterrorizante e inesquecível. A todo momento Ofelia precisa lidar com a difícil realidade e uma não-realidade tão dificultosa quanto encarar Vidal e a enfermidade de sua mãe. Não existe sossego em "O Labirinto do Fauno" e o preço que Ofelia paga por sua vida é tão alto que fica difícil para o espectador acreditar no desfecho da obra, ao mesmo tempo chocante e comovente. Coexistem no filme duas realidades: a histórica e a mágica, que se encontram para nos provar que a arte e a vida real caminham juntas e que o autoritarismo e a perversidade jamais irão impedir qualquer pessoa de sonhar e imaginar. Principalmente se ela for uma criança.
   

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