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sexta-feira, 31 de março de 2017

Crimes e Pecados



Filmado em 1989 e situado na metade da extensa filmografia de Woody Allen, "Crimes e Pecados" é um lado B bastante digno de ser considerado uma das melhores obras do diretor nova iorquino. Trata-se da história de um médico oftalmologista que desperta de uma ilusão amorosa extra-matrimonial. Falando de forma mais simples, o médico não consegue se desvencilhar da amante, que, apaixonada e decepcionada com o fim da relação, quer contar toda a verdade para a esposa dele. Acontece que o médico vive uma aparente vida perfeita de classe média de Nova York: é um filantropo, tem uma esposa dedicada e filha bem sucedida. Se a verdade sobre sua vida dupla for revelada, a carreira do médico vai pro fundo do poço. Tentando encontrar uma solução, ele chega a conclusão de que somente matando sua amante poderia viver em paz novamente. 

É um roteiro bastante mórbido, entrecortado pela história do personagem de Woody Allen, um diretor de cinema relativamente fracassado que está produzindo um documentário sobre o seu cunhado, que detesta. Esta história paralela é um romance mais próximo de uma comédia, que nada tem a ver com a história principal, exceto por compartilharem a mesma cidade e alguns personagens em comum. A presença de Woody Allen no filme, como ator, funciona como alívio para o espectador entre os momentos mais tensos do drama principal, que é uma história de assassinato. O que mais impressiona em "Crimes e Pecados" não é propriamente o tema, que na realidade é clichê, como o próprio personagem de Woody Allen brinca em algumas referências quando vai ao cinema com sua sobrinha. O que chama atenção é a maneira como o dilema psicológico do protagonista é retratado e como isso é passado ao espectador. É um "Crime e Castigo" visual, um pouco menos denso, mas que não deixa de ser impactante. Quase sentimos culpa assistindo a história do médico, ou talvez até sentimos. Esta culpa religiosa é abordada principalmente através da ótica do judaísmo, e aqui a palavra ótica não é nenhum trocadilho, como é eventualmente utilizada no filme. "Crimes e Pecados" é uma obra essencial sobre o amor, a paixão, a desilusão e o remorso, temas totalmente coerentes com a própria história de vida do seu diretor.

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