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domingo, 1 de fevereiro de 2015

A Teoria de Tudo


Um filme sobre o físico Stephen Hawking, por si só, já chama a atenção. Quando tem a chancela de cinco indicações ao Oscar, incluindo a de melhor filme, a obra torna-se ainda mais atraente. Vale lembrar ao espectador, no entanto, que este não é propriamente um filme sobre Hawking, mas também (e principalmente) sobre a sua relação com a esposa, Jane, que foi na realidade a autora da história adaptada para o cinema. Os primeiros sessenta minutos do filme são mais focados na personalidade de Stephen e na forma como ele reage à descoberta da doença degenerativa que o daria apenas mais dois anos de vida, isso quando o físico ainda preparava o tema de seu doutorado em Cambridge. Com persistência e uma presença de espírito fora do comum, Hawking dribla a doença com a ajuda da esposa e constrói a sua reputação como o grande cosmólogo do século XX e XXI, vencendo o tempo, que para ele passa com um pouco mais de crueldade do que o normal, por conta da perda dos movimentos de todos os seus músculos. 

A maneira como a doença ataca o físico faz com que o filme torne-se bastante angustiante e a atuação de Eddie Redmayne - em praticamente seu primeiro papel de verdade - é assustadoramente realista e humana, sabendo captar com maestria a simpatia e o bom humor do personagem, bem como o movimento vacilante de seu corpo nos anos iniciais da doença, até que fique para sempre em uma cadeira de rodas com o corpo levemente inclinado de uma maneira tão peculiar que tornou-se a marca de Hawking. A atuação da atriz que interpreta Jane também não é nada mal, embora isto não justifique sua indicação ao Oscar. Eddie, por outro lado, será extremamente injustiçado se não ganhar a sua primeira estatueta aos 33 anos. Outro ponto forte da obra é a montagem, que soube representar a passagem do tempo sem que o filme torne-se monótono ou acelerado demais, o que é raro em cinebiografias. E a passagem do tempo não poderia ter sido tratada com menos cuidado, uma vez que o tempo é basicamente o ponto de convergência de todas as pesquisas que Hawking desenvolveu durante sua vida.

O filme seria um pouco melhor aproveitado se não fosse a preocupação excessiva do roteiro com a vida conjugal de Stephen e Jane, embora essa seja a premissa do livro adaptado. É um pouco embaraçoso e até mesmo constrangedor para o espectador quando nos é sugerido que Jane, em um acampamento, procura a cabana de um amigo da família querendo sexo, enquanto Hawking entra em coma em uma visita à França, ainda que Jane não tenha recebido a notícia. Fiquei imaginando a reação do físico a esta cena quando certamente assistiu o filme na Inglaterra. É claro que o próprio Hawking, a sua maneira, também se envolve em outro relacionamento e acaba desfazendo o casamento com Jane, tendo o casal continuado amigos depois, mas fica difícil não perder a simpatia com a personagem depois deste evento no acampamento. Dentre buracos negros, prótons e elétrons, "A Teoria de Tudo" opta por explorar o drama da vida pessoal e afetiva de Hawking, quando poderia nos explicar um pouco melhor o motivo de sua reputação tão grande em todo o planeta (fora a condição física, é claro). Mas talvez a direção tenha acreditado que este não é um tema para entendimento de nós meros mortais. Fomos subestimados, mas quem sabe o próprio Hawking não nos dê essa compreensão em sua obra?

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