Páginas

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Nasce uma Estrela


Quando entrei no cinema para assistir "Nasce uma Estrela" eu já sabia de duas coisas: que o filme anda fazendo sucesso por ser estrelado por Lady Gaga e que se tratava de um remake do remake, do remake. A obra ainda guarda outra particularidade: é a estreia de Bradley Cooper como diretor. Além de atuar e dirigir, o ator também co-assina o roteiro e a trilha sonora original do filme. Embora o roteiro seja um tanto quanto requentado e não traga nenhuma grande novidade em relação aos filmes sobre músicos em ascensão e queda no mercado norte-americano, a obra surpreende pelas boas atuações de seus protagonistas (especialmente Cooper), pela bela execução musical de Lady Gaga e por uma direção muito digna para um estreante. Me lembrei bastante de "Coração Louco", filme de 2009 estrelado por Jeff Bridges e comentado aqui no blog, e também do documentário de 2015 sobre a cantora "Amy Winehouse", de Asif Kapadia. 

A história é um clichê do gênero, que por vezes peca pelo excesso de sentimentalismo, principalmente nos momentos finais, que são muito mais longos do que deveriam. Acontece que ainda assim o filme consegue nos cativar, pela força de seus protagonistas e pela qualidade impecável do som da trilha original, gravada ao vivo pela Lady Gaga, uma cantora bem acima da média das suas contemporâneas. A atuação de Bradley Cooper também é muito destacada para o filme, principalmente porque ele interpreta um cantor de rock alcoólatra e por vezes bem deprimido, parecido com alguns heróis do rock indie/grunge do mundo real, como Eddie Vedder. As boas caracterizações fazem o roteiro ganhar uma certa autenticidade, assim como as letras biográficas cantadas pelos protagonistas. 

A relação entre o casal no filme é tratada de forma muito mais sutil do que eu poderia imaginar, sem violência doméstica ou traições. Isso talvez seja o reflexo de uma política de abordagem da história a partir da ótica da personagem de Gaga como uma mulher forte, mesmo que como artista ela tenha precisado do apoio do companheiro. Ele, por sua vez, não se apoia em sua posição de artista rico para assediá-la ou estabelecer uma relação em que a dependência da namorada a faria ter de aceitar todos os maus comportamentos que o álcool o estimula a tomar. Essas opções por uma abordagem mais confortável do problema torna o filme mais leve e talvez mais palatável para plateias buscando apenas uma noite de entretenimento no cinema. Isto, no entanto, não será um consenso, pois o filme trata de outros assuntos com menos sutileza. Creio que, em termos de premiações, "Nasce uma Estrela" pode render indicações de atuação para Lady Gaga e Bradley Cooper e, certamente, alguma vitória para a trilha sonora original do filme. Eu recomendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário