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segunda-feira, 18 de março de 2019

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban

Lançado em 2004, "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" é o terceiro filme da adaptação da franquia de J.K Rowling para os cinemas. Em relação aos seus antecessores, o filme guarda algumas particularidades, tais como a escalação de Michael Gambon no papel de Dumbledore após a inesperada morte do ator Richard Harris em 2002. Outro grande diferencial deste terceiro filme é a direção, assinada por ninguém menos que Alfonso Cuarón, cineasta mexicano que àquela altura tinha um currículo relativamente pequeno, mas que anos mais tarde ganharia por duas vezes o Oscar de melhor diretor, um feito bastante raro na história do cinema. A presença de Cuarón na direção de "O prisioneiro de Azkaban", no entanto, não alavancou tanto o filme assim, que acabou sendo a menor bilheteria dos oito filmes da franquia. Vendo o filme hoje, quinze anos depois de seu lançamento, não consigo estabelecer muita relação entre o diretor e a sua obra. Creio que a passagem de Cuarón pelos filmes de Harry Potter tenha sido um ganho para a franquia em termos técnicos, mas não é possível observar na obra algum traço marcante da identidade que o diretor assumiu quando posteriormente se tornou um cineasta tão premiado.

Desde o princípio, há algo que me incomoda no terceiro filme da série, que é o uso excessivo do humor como ferramenta para a primeira identificação com o público. Este é um recurso mal empregado e que pode ser tanto uma falha do roteiro quanto do livro que o inspirou, mas também não seria injustiça culpar a direção, que neste filme visivelmente ganhou mais autonomia criativa do que nos dois primeiros da franquia. Talvez por esse acúmulo de brincadeiras, a ideia da fuga de um prisioneiro perigoso do maior presídio do mundo bruxo não é tão assustadora quanto deveria ser no princípio do filme. Somente na sequência em que Harry, Rony e Hermione são abordados por um dementador dentro do expresso Hogwarts é que o clima sombrio toma conta da história, aliado ao fato de que Harry Potter se convence que Sirius Black, o prisioneiro, é aliado de Voldemort e está doido para vingá-lo. O roteiro ganha certo brilho com o seu grande plot twist e a breve viagem no tempo que Harry e Hermione protagonizam para mudar drasticamente os acontecimentos da história, o que lembra bastante a dinâmica do clássico "De Volta para o Futuro". Ainda assim, o filme parece curto demais e sua narrativa muito superficial, talvez pela ausência de um vilão como nos dois primeiros filmes da série.

Há um importante ganho no elenco com a chegada de Sirius Black, interpretado pelo vencedor do Oscar Gary Oldman. Outra novidade é a Professora Sibila Trelawney, estrelada pela brilhante e também vencedora do Oscar Emma Thompson, em um papel com uma caracterização que praticamente não nos permite saber que é ela que está por trás das vestes excêntricas da personagem. Outra figura importante é o Professor Remo Lupin, que leciona defesa contra a arte das trevas, uma disciplina com bastante rotatividade entre os docentes de Hogwarts. Remo Lupin e Sirius Black são dois elementos muito importantes na reconstrução da história dos pais de Harry, que o jovem ainda praticamente desconhece até essa altura. Há um acréscimo na importância de Hagrid no filme, à medida que ele se torna professor do colégio e apresenta aos alunos uma criatura chave na história: um hipogrifo chamado Bicuço. De modo geral, o terceiro filme da série representa um grande avanço da narrativa em termos de personagens fundamentais para o seu andamento, mesmo que a história não seja tão atraente assim.

Após ver os três primeiros filmes em sequência, não pude deixar de notar que este é certamente o mais frágil, porque ganha em sombriedade mas perde em capacidade de entretenimento, o que deveria ser o foco principal da franquia. O filme tem os seus méritos, como a bela computação gráfica que dá vida a lobisomens, aves mitológicas e os macabros dementadores. No entanto, não há uma evolução boa o suficiente para empolgar o público, o que torna a história tão monótona quanto a caracterização lúgubre dos cenários. Alguns personagens ganham mais vida, como Hermione e o próprio Draco Malfoy, cada vez melhor como um vilão insuportável. O romance de Rony e Hermione vai se desenhando cada vez mais, até porque ambos parecem não se suportar muito, um dos primeiros estágios do nascimento do amor entre adolescentes. Mesmo com mais de duas horas de duração, "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" deixa a sensação que a história do terceiro livro de J.K Rowling foi contada com certa perda de informação e qualidade. Mais surpreendente que o plot twist é o fim do filme, tão súbito e seco, pouco condizente com o talento e a criatividade de seu diretor.

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