Não sei quantos thrillers devem existir com o mesmo mote - pai procurando filha desaparecida - mas "Buscando", de 2018, certamente merece menção especial, pois conta uma história batida utilizando uma narrativa incomum. O filme se apresenta ao espectador sob a perspectiva da tela do computador e do smartphone de seu protagonista, David Kim, um pai desesperado por encontrar a sua filha que de uma hora para a outra deixou de responder as suas mensagens na internet. Sim, toda a história é contada através da simulação de telas capturadas e os personagens são todos apresentados ora através de fotos ora por vídeos gravados ou capturados ao vivo em conversas do tipo "face time" ou por skype. É claro que a direção do filme encontra maneiras de nos apresentar o enredo sob as mais diversas formas que as mídias permitem, como em vídeos do youtube, sites de notícias e capturas de telas em redes sociais, caso contrário a experiência pode ser bastante tediosa, o que felizmente não acontece.
Não deixa de ser curioso que o filme nos atraia por um tipo bastante moderno de voyeurismo, que é o digital, onde há inegável satisfação em vermos o pai da jovem sumida navegando por seus e-mails e mensagens do Facebook em busca de respostas para o seu desaparecimento. Neste sentido, "Buscando" não é tão diferente de "Janela Indiscreta", clássico filme de Alfred Hitchcock filmado em 1954, sendo que desta vez as janelas indiscretas não são os objetos reais, mas as guias que se abrem nos navegadores, revelando conversas privadas e atividades suspeitas em fóruns adolescentes. Embora não aborde o tema com a profundidade que poderia, este suspense de 2018 me fez lembrar de outras obras importantes sobre investigação, como o vencedor do Oscar "A Vida dos Outros" (2006) e "A Conversação" (1974), dirigido por Coppola. É uma pena que "Buscando" não explore com mais intensidade o elemento sombrio da vida dupla que algumas pessoas comumente levam nas redes, tendo o roteiro do filme escolhido pelo caminho fácil da criação de um "plot twist" para coroá-lo, como se ideia da história já não fosse o suficiente para torná-la um bom filme.
Interpretado por um ator asiático-americano (algo incomum no cinema mainstream), "Buscando" deposita muitas fichas no talento de seu protagonista, o tempo todo focado pela câmera de seu computador. Para que o espectador não perca nada da história, a direção usa e abusa das ligações por vídeo, como se este tipo de recurso fosse tão utilizado assim, o que chega a ser pueril e pouco crível. Mesmo assim, o filme não deixa de ser uma experiência única e uma iniciativa inovadora no cinema, que pouco provavelmente será reproduzida em escala tão grande quanto neste longa. O movimento do ponteiro do mouse do protagonista e a sua digitação no teclado do computador por vezes nos passa a sensação de controle da narrativa, como se de fato estivéssemos fazendo parte dela. Isso se tornou realidade no ano passado, quando a Netflix lançou "Bandersnatch", um filme-episódio da série Black Mirror onde a interatividade entre público e roteiro foi levada a um patamar nunca antes visto na TV. De certa forma, dá pra dizer que "Buscando" inaugurou algumas transformações criativas em um gênero que precisa constantemente de respiros para continuar sobrevivendo ao tempo.
Esse filme basicamente se resume em: instinto materno/ instinto paterno. Todo o conflito e toda a solução se dá por esses dois fatores.
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