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quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

História de um Casamento


Este é o mais novo filme de Noah Baumbach, cineasta nova-iorquino que já apareceu aqui no blog por causa de "Frances Ha", filme de 2012. "História de um Casamento" é mais uma obra distribuída pela Netflix, assim como uma boa quantidade de filmes de sucesso recém-lançados e indicados ao Oscar 2020. Correndo o risco de ser um pouco redundante entre os críticos que analisaram o filme de Noah, preciso dizer que também concordo que a obra deveria na realidade se chamar "História de um Divórcio", pois não há desde o princípio da história sequer vestígios de casamento entre os dois protagonistas, mas apenas ruptura e conflitos.

A separação de um casal é o tema central do filme, que narra a saga de um homem e uma mulher norte-americanos para se divorciarem um do outro em comum acordo, respeitando as suas carreiras profissionais em cidades diferentes e a guarda do único filho do casal. O homem, interpretado magistralmente por Adam Driver, é um diretor de teatro de vanguarda estabelecido em Nova York, que se casou com a principal atriz de sua companhia, vivida por Scarlett Johansson em mais um de seus excelentes trabalhos.

Cena de "História de um Casamento". A câmera de Noah Baumbach é perspicaz ao criar símbolos que retratam a separação do casal.

Embora as cenas iniciais do filme sejam parte de um prólogo narrado pelo casal em que cada um lista as qualidades do outro, logo somos surpreendidos ao descobrir que eles estão na verdade participando de uma terapia para salvar o casamento. Como nada é alcançado neste processo terapêutico, a história segue para o caminho do divórcio.

O filme se passa inicialmente em Nova York, mas logo somos transportados para Los Angeles, onde a personagem Nicole (Scarlett Johansson), vai morar com a sua mãe e o filho após separar-se de Charlie (Adam Driver). Em Los Angeles, Nicole procura uma advogada (Laura Dern em um papel que lhe o Oscar de melhor atriz coadjuvante) que se torna uma espécie de vilã na história, pois ela consegue transformar em guerra um processo de separação que até então parecia um procedimento pacífico e amigável.

Laura Dern (à esquerda) como a advogada feminista e belicosa.

A partir do momento que esta advogada entra na história, fiquei particularmente incomodado com a mudança brusca do comportamento ético de Nicole, que até então aparentava ser uma pessoa bastante razoável. Por outro lado, Charlie se torna vítima do conluio entre esposa e advogada, de modo que o roteiro claramente toma o seu lado no processo do divórcio, provocando uma empatia entre este personagem e os espectadores, o que consequentemente antipatiza Nicole aos nossos olhos.

Charlie se desloca para outra cidade, abandona temporariamente a direção de sua peça e gasta o dinheiro de uma bolsa cultural no processo de separação. Nicole, por outro lado, está claramente incomodada com os caminhos tomados pelo divórcio e parece se dividir entre o desejo de vencer a disputa judicial com o marido e ao mesmo tempo não prejudicá-lo, porque provavelmente ainda o ama, como um trecho do filme em especial parece sugerir.

Apesar da separação, o filho do casal é o elo que ainda permanece entre eles.

Mas o roteiro de Baumbach só se torna um pouco complacente com Nicole nos minutos finais, porque quando a perspectiva se aproxima tanto de Charlie passamos a acompanhar a história quase que somente pela sua experiêcia, o que se observa principalmente na longa cena em que o personagem recebe a visita de uma representante do conselho tutelar, uma sequência muito bem desenvolvida, com muitas mensagens implícitas na direção e no texto do cineasta.

Minha única ressalva para "História de um Casamento" é justamente que o filme deixe transparecer tão grosseiramente que foi escrito e dirigido por um homem, tendo Noah sido incapaz de dar à personagem de Nicole chance de ser compreendida e retratada com a mesma humanidade que é dedicada à Charlie. Claro que poderíamos aceitar a ideia de que Nicole é uma personagem desagradável e por esta razão ela foi retratada assim, mas talvez isso não faça tanta justiça às mulheres que se divorciam todos os dias por relacionamentos quase sempre arruinados por homens, mesmo que eu não tenha aqui suporte estatístico para essa afirmação. 

Uma das melhores cenas do filme, com bela interpretação dos dois atores, ambos indicados ao Oscar de 2020.

Ainda assim, "História de um Casamento" me tocou bastante pelas interpretações fantásticas de seus protagonistas - principalmente na memorável cena da discussão no apartamento de Charlie em Los Angeles - e também pelo sentimento que algumas cenas me transmitiram, como a sequência do Halloween (as duas) e principalmente o momento em que Charlie canta em Nova York, amargurado e quem sabe também um pouco aliviado por ter retornado à companhia dos amigos e do trabalho na cidade onde sempre morou.

Não resta dúvida que o filme conta a história de um divórcio, mas também fala sobre pessoas que não abrem mão de suas carreiras em prol de relacionamentos e nem de suas personalidades para salvar um namoro ou um casamento. Nesta perspectiva, Nicole não titubeia ao decidir ser uma artista que não viverá à sombra do marido, assim como parece ser a vida real de Noah Baumbach e Greta Gerwig, os dois grandes cineastas do momento. 

Um comentário:

  1. Eu disse: história de um divórcio hahaha meus sentimentos foram os mesmos que o seu em tudo, com a diferença que eu choro com mais facilidade rsrsrs atuação do Caião é tuuuuuuuuuudo, apenas tragam a estatueta (mas tem que dividir com o papa chico)!

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