Esta é a versão para TV do romance homônimo escrito por Stephen King em 1986, que foi adaptado para as telas em duas ocasiões: em 1990 e em 2017. Na década de 90, o livro foi trazido para a televisão através de uma mini-série, com pouco mais de 3 horas de duração. Trata-se da macabra história de um grupo de sete crianças que unem suas forças para combater um palhaço que está assassinando crianças na fictícia cidade de Derry, no Maine. O palhaço se chama Pennywise e guarda uma peculiaridade: ele não possui forma ou existência definida, adquirindo a aparência daquilo que mais assusta cada criança que decide perseguir. O resultado disso é que o vilão possui um peso diferente na vida das sete crianças protagonistas, com personalidades distintas.
A representatividade é algo muito marcante nesta versão da história, uma vez que os próprios jovens se identificam como membros de um "grupo dos perdedores". Cada uma das crianças possui o seu motivo para se sentir à margem dos demais colegas da cidade: o jovem nerd protegido pela mãe, a menina assediada pelo pai, o menino poeta que está um pouco acima do peso e por aí vai... Estes estereótipos auxiliam o filme a criar uma identidade visual típica dos anos 90, o que não acontece na versão de 2017, que reproduz o padrão das crianças escolhidas hoje para o cinema norte-americano, quase todas muito parecidas. Esta identidade ultrapassa a fronteira visual e faz com que eles próprios sintam-se unidos pela vontade de combater o palhaço Pennywise, invadindo juntas o estranho lugar que ele habita no meio do pântano.
Há na versão da década de 1990 duas temporalidades que coexistem no roteiro, em um modelo de alternância entre o tempo em que os protagonistas eram crianças e as suas respectivas versões adultas de 30 anos depois. Isso faz com que o filme ganhe uma dinâmica diferente, sendo difícil para o espectador definir se isso é exatamente bom ou ruim. A versão de 2017 optou por dividir a história em dois filmes: um para as crianças e outro para os adultos (que será lançado somente em 2019). Ainda não há como julgar qual será o efeito disso na nova versão, mas definitivamente o filme de 1990 perde ao contar a história dos jovens crescidos combatendo um palhaço usando a mesma retórica e até os mesmos instrumentos de quando eram apenas crianças. Tudo soa muito artificial. Muito "anos 90", por assim dizer.
A grande força da narrativa, das duas versões de "It", é certamente o seu vilão protagonista, interpretado por Tim Curry nesta versão para TV de 1990. A ideia de um palhaço assassino por si só é bastante perturbadora, já que o palhaço é naturalmente uma figura cômica, divertida e pacífica. Essa ruptura no imaginário do que é um palhaço ocorre na cena em que ele aparece pela primeira vez no filme, dentro de um bueiro, tentando atrair uma criança. Esta cena, embora muito curta, é definitivamente a isca para captar os fãs de filmes de horror para a história do filme, que nem é tão interessante assim. Um palhaço habitante de esgotos que mata crianças. Não há como um filme sobre este tema não capturar a atenção do espectador. E assim "It" ganha o seu público, aterrorizando mais ainda quem o assiste a partir das surpreendentes aparições do palhaço em locais aparentemente tranquilos. "It" é um filme que nos assusta, pelo tema e pela identidade visual de seu protagonista. Ainda que peque pela extensão exagerada e pelo tom excessivamente infantil de suas "batalhas", é um filme de terror inesquecível. A nova versão de 2017 tem um apelo mais maduro, o que faz com o que o filme ganhe potencial de horror, embora não tenha o mesmo aspecto ingênuo da versão de quase 30 anos atrás. Vou esperar para falar dela quando a franquia tiver sido encerrada no ano que vem.
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